Por Gajo de Alfama
Camponesa, gravura de Weingärtner
As relações entre agricultura e amor são bem interessantes. Já diria a referência a Antoine de Saint-Exupéry de que o amor e a amizade são como uma árvore, precisam ser periodicamente cultivados, regados. Pois já tive árvores nesta vida pra compor uma pequena floresta. Já fui uma mangueira, uma samambaia e, também um pé de feijão plantado num algodão molhado. Consegui, certa vez, destruir com fungos e bactérias uma Cecóia. Também já cai repentinamente como uma bananeira velha. E o que mais me chamou a atenção, foi quando tive um cacto de mandacaru enorme. Não sei se por falta ou excesso d’água, em três anos ele secou, ganhou uma estranha cor amarela, estava sem Sol. Fiquei impressionado, pois achava que essa planta era como os amores nos filmes. Imortais. E depois disso, por várias vezes, minha horta particular secava. Mas há gente que sinceramente não sabe viver a vida. Fica arrumando desculpas e afazeres para não olhar o seu próprio jardim, reparar naquela flor que brota linda e solitária no inverno. Pensa que no frio é impossível nascer algo tão belo. Mas é mentira. É desculpa para não se dar ao trabalho de cultivar algo tão intenso e forte como o amor. De toda forma, assim como na agricultura, na paixão não há nenhuma receita pronta. Agente arrisca, sofre, chora, mas vive a vida como deve ser vivida. Sem medo de errar e se arrepender. Hoje confesso que estou apaixonado por uma bela camponesa. Que me cultiva a distância com seu sorriso lindo, com lembranças felizes e com promessas de re-encontros incríveis. E como um camponês calejado que sou, mesmo sabendo que os contratempos da vida podem destruir em instantes o trabalho de um ano inteiro, estou emocionalmente e eternamente ligado a essa nova lavoura, limpa de qualquer forma de veneno, linda que nem o nascer da Lua.
desvelada
ResponderEliminarsemente
vela
paciente
vela
até que outra pele
diligente
te vele
lentamente
te desvele
e solte
em seiva concêntrica
teu âmago
quente.