quinta-feira, 23 de junho de 2011

São João!

Por Gajo de Alfama
fogueira de São João, em: http://www.overmundo.com.br/banco/sao-joao-na-fazenda-era-melhor

São João é festa no meu Norte do Sul, no Brasil e em Portugal. Se lá, é dia de comer milho, fogueira, fogos – aqui se saboreia sardinha na brasa com pão. Forró do bom, seja em Recife, Lisboa, Porto, João Pessoa, Campina Grande, Caruaru e Arcoverde. Dia de ouvir Luis Gonzaga, o som da sanfona, o som que é a representação mais fidedigna do que é o Nordeste.

E hoje acordei pensativo com a vida. Dos tempos em que mainha me vestia de matuto, em baixo do prédio, soltava as bichas aliadas e peidos de véia. Rojão, somente para crianças mais velhas. Botava roupas coloridas, dentes pintados, chapéu de palha. O hábito de pintar os dentes era uma coisa inocente. Hoje compreendo a pitada de preconceito urbano que há nessa tradição, e, mesmo com o risco de parecer exagerado, prefiro deixar minha arcada dentária do jeito que tá. Dia de fingir que tem barba, bigode, de que você tá casado e que sabe dançar quadrilha. E, claro, canjica, mungunzá, pé de moleque, bandeiras coloridas, balão.

São João é o culto ao fogo, antigo ritual pagão, romano e mouro. É o fascino com o risco, com o brilho e o acolhimento das chamas a queimar em brasa ardente. Dia de desafiar a sorte. De Soltar foguetes.

E aqui em terras do além mar, mesmo saboreando toda a tradição lusa, São João pra mim é dia de saudade. Nostalgia dos tempos de menino, de brincar com primos e primas, amigos os quais em sua maioria nem conheço mais. Mas havia uma conexão coletiva em nossas almas, expressadas nos sorrisos de toda a brincadeira que nos deixará eternamente conectados. Hoje a noite, estarei aqui, olhando uma fogueira, como quem olha uma máquina do tempo. E transportarei o meu espírito, a outra fogueira, cruzando o Atlântico, onde, sorrindo, encontrarei os olhos do meu amor.


Sem comentários:

Enviar um comentário