domingo, 26 de junho de 2011

antes de dormir

por Jorge Bem Amado
Pobre Pescador, de Paul Gauguin

Em cima da cabeceira velha de madeira,
esqueceste tua camisola branca
entre a primavera fria e o inverno chuvoso
no final de Maio a meados de Junho.
Antes de dormir essa noite
queria fazer um poema,
que falasse de navios e espaçonaves,
de ondas do mar, de veleiros.
O sabor seco do orvalho contornando nossos lábios
molhados de saliva adormecida de boca vinagrada
são folhas que atravessam a ventania,
redemoinhos, varandas, planos e sonhos.
Não feche os olhos, nem se proteja
joga a rede e doma a tempestade
por que o vento não levou uma palavra
e nunca derrubará aquela porta,
tombada pela areia da praia,
de nossa casa de pescador.



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