sexta-feira, 18 de março de 2011

Vermelho e Amarelo

por  Jorge Bem Amado
foto: por do sol em Maputo - em: http://madalas.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_03.html

Naquela tarde vermelha e amarela,
ela me agarrou pelos peitos e me atirou seus lábios.
Me deixou sem malas, sem amores, sem sapatos,
escondendo minha alma em suas mangas cor de jambo.
Debaixo da sombra do pé de carambola,
desejei ardentemente poder controlar as nuvens, a lua e o sol
para jamais existir a quarta-feira.
Gota a gota a felicidade escorria em meus pêlos,
como o suor de dois corpos grudados,
pavorosos com o passar dos dias,
mas sem o receio das viúvas covardes.
Acorda meu bem que já é tempo de pegar as malas.
De entrar no avião, embarcar para Lisboa.
É tempo de saudade dos planos que não foram feitos,
dos corpos que não foram tocados,
dos sonhos que nunca existiram.
Mas que ficarão  eternamente guardados,
Naquele beijo num fim de tarde vermelha e amarela.

1 comentário:

  1. Malas abertas no chão derramaram as almas anoitecidas num beijo... e como quem traz nas mãos centelhas de lua e sol, demoraram poro a poro o corpo a corpo...

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